quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O elefante hondurenho

Crises como a de Honduras, ainda mais as de cores cinzentas, provocam defesas incomumente claras de opiniões. Ontem, aconteceu de alguns textos de diferentes jornais dialogarem entre si como se tivessem sito escritos um em resposta ao outro. É interessante cotejá-los.

O editorial do Estadão, francamente desfavorável a Zelaya e à decisão brasileira de abrigá-lo em sua embaixada, derrama-se em dizer os podres “bolivarianos” do presidente deposto, mas não diz um “a” sobre o modo como o golpe aconteceu. Já o artigo de Elio Gaspari na Folha de S. Paulo não tenta destrinchar se foi ou não golpe, nem tenta provar que a ação do Brasil não caracterizou intervenção nos assuntos internos de outro país – ao contrário, defende a possibilidade de intervenção diplomática para deter o avanço do golpismo na América Latina.

O ponto de vista de Gaspari é mais amplo, diferenciado do de vários outros articulistas, que dão ênfase nas formalidades. Pedro Estevam Serrano fez uma análise da Constituição hondurenha na Folha para mostrar que nem ela nem a intervenção da Suprema Corte não legitimam a ação dos golpistas. Mas, no mesmo dia, foi publicado no Estado um texto de José Nêumanne que reproduz a íntegra de um artigo de que Serrano não falou, o 239, que diz que sim, quem quebrar a inegibilidade “ou propuser sua reforma (...) terá de imediato cessado o desempenho de seu respectivo cargo”. Mas Nêumanne também não mencionou que a mesma Constituição diz que não se pode expulsar alguém do país, vestido ou de pijama.

Enfim, uns falam do rabo do elefante, outros da tromba, outros da orelha, mas poucos falam do elefante em si – que está mais para mamute com cabeça de ornitorrinco.

Veja também, neste blog: O golpe de fato em Honduras

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